Propomo-nos, em breves linhas, apresentar a história e evolução da Abadia de São Geraldo, da Congregação Húngara da Ordem de São Bento, bem como a sua vocação monástica, no contexto eclesial universal e particular.
O Mosteiro Beneditino, enquanto encarnação da Regra de São Bento (480-547), é antes de tudo "escola ao serviço do Senhor" (RB Pról. 45) e o monge é aquele que milita "sob uma Regra e um Abade" (RB 1,2). A vida monástica ocidental condensa sua sabedoria na simples expressão: "Ora et Labora" (Oração e Trabalho). Assim, o monge, como o cristão, deve pautar sua vida num duplo sentido:
a) vertical - a vida de oração;
b) horizontal - o trabalho cotidiano.
Ambos formam uma harmonia para a vivência autêntica da vocação cristã e evidenciam o notável equilíbrio existente num Mosteiro entre a vida contemplativa e sua repercussão no mundo.
Por esse motivo, nosso Mosteiro não é apenas clausura que separa o monge do mundo, encastelando-o em uma torre de marfim. Pelo contrário, estamos inseridos na Igreja local, penetrando em todas as camadas sociais através de nossas múltiplas atividades.
Tampouco somos uma simples associação ou mera entidade mantenedora de suas obras. Somos, isto sim, centro de irradiação sociocultural, pastoral e espiritual; verdadeiro eixo ao redor do qual gravita essa heterogeneidade de ocupações. Nossa força e capacidade de realização residem na caridade fraterna, serviço mútuo e trabalho comum, abrigados na união, comunhão e participação no ideal da procura incessante de Deus.
O crescimento e a expansão da vida cristã, vivida pelo monge, têm manifestações externas e internas. As primeiras, isto é, as externas, revelam-se na ação e no empenho do monge. As segundas, ou seja, as internas, ocorrem nos recônditos do claustro: uma alegria mais sorridente, um silêncio mais profundo, uma paz que toca todos os corações, levando-os a uma verdadeira experiência de Deus.
Nossa vibrante vivência interior está centralizada na prática assídua e diária da escuta da Palavra de Deus. Escuta essa que se dá através da recitação e interiorização dos salmos na Liturgia das Horas, na Lectio Divina e na Celebração Eucarística cotidiana. De uma maneira crescente, procuramos também partilhar nossa vida interior com nossos hóspedes e pessoas que nos procuram.
Assim, a comunidade beneditina, aberta à amizade, hospitalidade e interesse efetivo pelas necessidades dos homens e do mundo, comunga com a Igreja católica apostólica romana:
"... as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem... Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração"(GS1).
Dentro desse clima de comunhão, temos aberto nossa hospedaria para o serviço de toda a Igreja, desde a recepção de Sua Santidade, Papa João Paulo II, e comitiva (03 e 04/07/80), aos mais variados órgãos eclesiais como CELAM, CNBB, CRB, AEC, CIMBRA etc., e a todas as Ordens, Congregações e Movimentos que o solicitarem.
Por outro lado, nosso trabalho e nossa ação fora do claustro do Mosteiro são complexos e múltiplos.
A princípio (1931-1945), dedicávamo-nos, com apenas três monges, à Pastoral dos Húngaros que para cá haviam imigrado. Ainda não éramos uma comunidade. Não podíamos prever os desígnios de Deus.
Por razões sociopolíticas nossos monges tiveram de deixar a Hungria após o término da II Guerra Mundial e vieram para o Brasil. Nesta altura, a incipiente comunidade resolveu abrir outra frente de trabalho, além da Capelania dos Húngaros e da Paróquia Santo Estêvão Rei, em Vila Anastácio. Seguindo a missão própria de nossa casa-mãe, a Arquiabadia de Pannonhalma (Hungria), fundamos o Colégio Santo Américo (1951) para nos dedicarmos à Educação da Juventude.
O passo seguinte foi a ereção jurídica de nossa comunidade em Priorado Conventual independente (08/12/1953), sob o nome de Mosteiro São Geraldo, passando a operar como entidade mantenedora do Colégio Santo Américo e fonte vital da Capelania Húngara e Paróquia Santo Estêvão Rei.
Atentos aos "Sinais dos Tempos", expandimos nosso trabalho, abrindo novos horizontes pastorais e sociais: Serviço Social do Mosteiro (1965), atualmente Obras Sociais do Mosteiro São Geraldo, composta de três estabelecimentos para a assistência integral de 900 crianças carentes entre 0 e 18 anos e suas famílias; Instituto Social Morumbi (1966), Centro de Estudos das Ciências Sociais; Seminário Santo Américo (1º Grau) e Paróquia Santa Rosa de Lima, em Nova Santa Rosa, Pr.; Paróquia São Bento do Morumbi (1970) e Seminário São Plácido (2º Grau), em São Paulo (1974). Em 1980, como o intuito de compartilhar nossas riquezas espirituais, constituímos a Fraternidade dos Oblatos, formada por leigos engajados que procuram maior aprofundamento e vivência do Evangelho à luz da Regra Beneditina.
Nos anos subseqüentes, dadas a distância, a dificuldade de manutenção e a profunda alteração da conjuntura social e eclesial no Brasil, encerramos as nossas atividades na Paróquia Santo Estêvão Rei, Seminário São Plácido, Seminário Santo Américo e Paróquia Santa Rosa de Lima.
Cuidamos, todavia, que os mesmos institutos tivessem continuidade no âmbito eclesial, ainda que, como no caso dos Seminários, com outras funções.
Reorientamos assim as nossas forças e recursos para a ampliação do Colégio, aprimoramento e expansão de nossas Obras Sociais em áreas carentes e favelas da periferia onde nos encontramos e crescimento e fortalecimento de nossa vida monástica interna.
Após vários anos de maturação e de atenta escuta à vontade de Deus, a Comunidade sentiu-se apta a solicitar a ereção de nosso Priorado Conventual a Abadia e consolidar a semente outrora lançada. Fomos erigidos a Abadia em 08 de junho de 1989 e elegemos nosso primeiro Abade em 09 de agosto, tendo o mesmo recebido a Bênção Abacial em 11 de setembro. Sob a ação do Espírito Santo, agora também podemos clamar "Abba", Pai!
Dando prosseguimento ao fortalecimento de nossa vida monástica, fundamos a Cela de São José em 6 de agosto de 1992, Festa da Transfiguração do Senhor. Situa-se na zona rural do município vizinho de Itapecerica da Serra, próximo ao mosteiro feminino Nossa Senhora da Paz e distante 25 km de onde nos encontramos, para termos um ambiente mais propício à vida contemplativa e claustral, sem, contudo, abandonar as obras externas. Com as sucessivas construções da Igreja Conventual, dedicada a São Martinho de Tours e da Nova Hospedaria, estamos construindo um novo espaço de vida litúrgica, trabalho manual, recolhimento, silêncio e oração.
Nossa consagração monacal e nossa inserção eclesial são exigentes e demandam a formação de novos monges para que possamos dar-lhes continuidade, por isso, todos os dias pedimos: